sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Ativismo político e as redes sociais

 

Li por estes dias um artigo no Blog do Favre* que me chamou atenção, este dizia que o ativismo nas redes sociais é de viínculos afetivos fracos enquanto a militância tradicional decorre de vínculos afetivos fortes. No fim do texto o autor afirma que: “Transfere nossas energias das entidades que promovem atividades estratégicas e disciplinadas para aquelas que promovem atividades que promovem flexibilidade e adaptabilidade. Torna mais fácil aos ativistas se expressarem e mais díficil que isto tenha algum impacto”

Comecei a me questionar, então, se é realmente assim e se é necessariamente assim. Confesso que o artigo apresenta exemplos sobre os quais nada posso dizer e que em minha experiência de militante as redes só serviram para desaguar frustrações e disputas de movimentos já desorganizados, ou seja, que possuíam vínculos fracos.

Ora, que esteja assim, um movimento de viínculos fracos, não significa que que seja necessariamente assim. De todo modo, o vigor do primeiro sempre se dá por último. Permanece, então, o questionamento sobre se é possível que o ativismo nas redes sociais seja de vínculos fortes. Tal questionamento deve ter início buscando responder o que são as redes sociais.

Penso que seja correto dizer que são um instrumento, ou seja, um meio para um fim. Estabelecer meios e fins são atividades do homem. O modo como se estabelece meios e fins é definido pelo senso histórico. Isto quer dizer duas coisas a saber: o uso dos instrumentos é encaminhado pelo progresso do relacionamento do homem com o mundo e este relacionamento não é um destino fatal ao qual o homem deve se submeter.

Este relacionamento caracteriza exatamente o título do artigo e sua tese, ou seja, é o perigo da afirmativa ou negativa do instrumento enquanto tal. O senso histórico revela o mundo como nós o conhecemos e se caracteriza por ser ao mesmo tempo abertura e trancamento.

Sendo abertura, nos coloca num caminho produtivo em que nos é permitido, por meio do questionamento, nos apropriar dele e estabelecer um relacionamento livre. Tal relacionamento livre significa o descortinamento do instrumento como um modo de conhecer o mundo e não como o único modo.

Por outro lado, enquanto trancamento significa observar o instrumento como realidade autônoma e, por isto, sua instrumentalidade torna-se o único modo de conhecer o mundo. Tal perspectiva impele o homem a tentar dominá-lo.

Digo trancamento por que a tentativa de dominar a instrumentalidade nos faz, como no artigo em questão, arremeter em seu favor ou deletério. Revela-se, neste caso o desafio explorador que considera o instrumento como uma disponibilidade para um único fim e, reflexivamente, nos considera como um dispositivo. Dá-se, então, que aquilo que está disponível o está por e para alguém, ou seja, está disponível para ser explorado.

É o senso histórico, que desencobre o mundo, e não o instrumento enquanto tal que define o seu uso. Esta definição é precisamente o perigo por que pode libertar ou fechar toda possibilidade de conhecer se escute ou não o apelo do senso histórico. Por óbvio, este apelo não é alvitre de nenhum grupo de iluminados mas o próprio chamamento a produzir um sentido para o modo como nos relacionamos com as coisas.

Os instrumentos não têm realidade autônoma, dissociada da história, por isto é um erro dizer que foi a hierarquia que despertou a consciência e possibilitou o sucesso da luta. O que de fato o fez foi a produção de um sentido que auscultou o apelo da história e possíbilitou um relacionamento livre com os instrumentos disponíveis então. Este auscultar do apelo histórico foi também  o que ocasionou vínculos fortes, por que produziu sentido para a vida daquelas pessoas.

Por fim, devo concluir que mesmo se hoje o ativismo nas redes for de vínculos fracos não há motivo para afirmar que por natureza as redes sejam destinadas meramente a tornar a ordem social eficiente, simplesmente por que seu uso depende do modo como nos relacionamos com sua instrumentalidade. O que está em jogo é a nossa capacidade de produzir sentido e, com isto transpor a mera exploração. Não são, de todo modo, os meios que definem a luta política mas a luta política que define os meios que serão utilizados.

*http://blogdofavre.ig.com.br/2010/12/a-revolucao-nao-sera-tuitada/

Um comentário:

  1. A internet é mídia de mão dupla. Ela fortalece os vínculos, sejam eles fracos ou fortes. O que causa vínculos fracos são mídias unidirecionais: TV, jornal impresso, revista.

    Bom texto!

    Abraço.

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