domingo, 13 de fevereiro de 2011

A vitória do povo egípcio contra o ditador Hosnin Mubarak, que renunciou ao poder nesta sexta-feira (11), estimulou manifestações pela democracia em pelo menos dois países árabes neste final de semana: Argélia e Iêmen.

EFE
Polícia tenta conter manifestantes na Argélia
Na Argélia, milhares de pessoas desafiaram o estado de emergência em vigor há quase 20 anos, e saíram às ruas gritando palavras de ordem contra o presidente Abdelaziz Bouteflika e exigindo melhores condições de vida e maior liberdade. No Iêmen, milhares ainda ocupam o centro da capital, Sanaa, reclamando a saída imediata do ditador Ali Abdullah Saleh.


Repressão

Em Argel, o governo já tinha reprimido com brutalidade uma manifestação que comemorava a queda de Mubarak no Egito, no dia anterior, e voltou a jogar a polícia contra os opositores. Centenas de pessoas foram detidas. Helicópteros estão sobrevoando a área central da cidade, enquanto veículos blindados e barreiras impedem a passagem de ônibus com mais manifestantes. Cerca de 20 mil policiais estão trabalhando na operação.

A capital da Argélia já havia registrado confrontos entre manifestantes e policiais em janeiro deste ano, em meio a protestos contra o desemprego, os preços dos alimentos e as más condições de moradia. Os protestos populares são proibidos na Argélia devido a um estado de emergência que dura desde a guerra civil de 1992.

A mesma história

A situação no país não é muito diferente do Egito. O ditador Bouteflika, 73 anos, aliado dos EUA, comanda o país desde 1999 por meio de um regime repressivo. O desemprego é alto, especialmente entre os jovens, as carências sociais se multiplicam (verifica-se uma série crise no setor habitacional) e há uma insatisfação generalizada na sociedade, contida até agora a ferro e fogo.

Reuters
Protestos no Iêmen são inspirados pela queda de Mubarak
No Iêmen, onde os jovens lideram os protestos, a história se repete. Ali Abdullah Saleh, outro fiel aliado do imperialismo estadunidense, está há 32 anos no poder. Os ativistas, que pediam uma revolução no país árabe, chegaram a entrar em confronto hoje com um grupo de mercenários do ditador, em frente à Universidade de Sanaa. Há relatos de que as forças de segurança também se envolveram no enfrentamento.


O governo de Saleh é acusado de corrupção e concentração de poder em torno de seu clã. O partido governista, o Congresso Geral do Povo, tem ampla maioria no Parlamento. O velho ditador assumiu a Presidência da República Árabe do Iêmen (ou Iêmen do Norte) em 1978, por meio de um golpe militar. Em 1990, ele tornou-se presidente da nova república, criada a partir a fusão entre os Iêmens do Norte e do Sul.

Festa e preocupação no Egito

O povo está em festa por todo o Egito neste sábado (12). A derrocada de Hosni Mubarak, depois de 18 dias de protestos que encantaram o mundo e relançaram as luzes da revolução no palco da história, é comemorada com justiça como uma grande vitória.

Mas os líderes dos protestos continuam em estado de alerta na Praça Tahrir, de onde pretendem sair só depois que o processo de transição à democracia estiver melhor definido, assegurando a participação dos civis.

Militares

Afinal, ao cair fora Mubarak transferiu o poder aos chefes militares que literalmente até ontem sustentavam o ditador.

As sinalizações dos generais e os compromissos com a democracia ainda não são convincentes. As primeiras declarações do Comando Militar procuram acalmar e agradar Israel e EUA, anunciando respeito aos acordos internacionais formados pelo país, o que inclui o controverso tratado de paz com Israel.

Já os acenos ao povo e à oposição foram tênues e dúbios. Os líderes do protesto exigem um compromisso mais explícito dos militares com a democratização do país e querem, de imediato, o fim do estado de emergência e dos tribunais militares, a libertação de todos os presos políticos e o desmantelamento do aparelho repressivo.

Barricadas

Na praça Tahrir, ponto principal de concentração dos protestos iniciados em 25 de janeiro, centenas de pessoas continuavam acampadas neste sábado. Milhares de manifestantes passaram a noite no local, comemorando a saída do presidente.

O Exército egípcio começou neste sábado a retirar as barricadas dos acessos à praça, removendo carros queimados que serviam de barreiras. As Forças Armadas mantêm tanques e veículos blindados nas ruas, principalmente em frente aos prédios do governo e de outras instalações importantes.

O clima é de festa e comemoração. Muitas bandeiras do Egito podem ser vistas nas janelas dos prédios e penduradas em árvores. O comércio voltou a abrir normalmente e o policiamento foi retomado, com a circulação de viaturas nas ruas do Cairo.

Reformas em debate

As emissoras de TV locais já realizam debates discutindo o futuro político do Egito, assim como as reformas que o Conselho das Forças Armadas - que assumiu o controle do país após a saída de Mubarak - pode realizar.

Diversos grupos já propõem mudanças na Constituição, nos artigos referentes ao processo político e às liberdades civis. A forma de governo do país - com a definição entre presidencialismo e parlamentarismo - também deve entrar em discussão.

Já Mubarak continua com sua família em seu palácio no resort de Sharm el-Sheikh, no Mar Vermelho, sob forte esquema de segurança montado pelo Exército. Segundo o correspondente da BBC no Cairo Jon Leyne, ainda não se sabe se o ex-presidente permanecerá no Egito. Também é incerto o futuro do vice-presidente, Omar Suleiman, e de outros civis que mantiveram seus cargos do governo anterior.

Por enquanto, não se sabe quais serão os próximos passos do novo governo. Mas os militares prometeram encerrar o estado de emergência que vigora no país há 30 anos.

Derrota dos EUA e Israel

Os Estados Unidos, que gostam de se apresentar com a máscara de campeões da democracia, manobram para controlar os acontecimentos e ainda desfrutam de forte influência no seio das Forças Armadas. O primeiro comunicado do Comando Militar, garantindo respeito aos tratados internacionais firmados por Sadat e Mubarak, revela isto.

Mas a poderosa onda de protestos que agita o mundo árabe e o Oriente Médio tem a um só tempo um caráter democrático e antiimperialista. Não condizem com os interesses do império. Como disse neste sábado o secretário do Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã, Said Jalili, a queda do ditador Hosni Mubarak demonstra o “fracasso dos Estados Unidos e do sionismo [de Israel] na região”.

Da Redação, Umberto Martins, com agências

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