quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Libertadas do tráfico, favelas com UPP ainda sofrem com falta de serviços públicos

Texto reproduzido do sitio www.r7.com.br

Carla comemora chegada da UPP,mas aponta o lixo e o fornecimento de água e luz como os principais problemas da favela

Principal destaque da política de segurança pública do governador Sérgio Cabral (PMDB), a pacificação de 13 favelas do Rio de Janeiro nos últimos dois anos foi uma grande vitória para a população da cidade, mas a enorme demanda por melhorias e intervenções nessas comunidades ainda é um grande desafio a ser enfrentado pelo governo do Estado e pela prefeitura.

Enquanto a população é unânime em afirmar que a vida mudou muito após a chegada das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), os problemas gerados pela ausência de serviços públicos elementares são um consenso entre os moradores.

Os governos estadual e municipal, as concessionárias e empresas privadas agora tentam correr atrás do tempo perdido, após décadas de crescimento desordenado proporcionado pela falta de uma política habitacional consistente e da presença do poder público.

As dificuldades na coleta de lixo, no abastecimento de água e energia elétrica, na acessibilidade e a falta de equipamentos públicos e de ofertas de cultura, educação, esporte e lazer ainda são realidade na vida dos moradores das comunidades beneficiadas pelas UPPs.

Moradora do morro da Providência, na zona norte, desde que nasceu, a auxiliar de limpeza Carla do Nascimento, de 28 anos, é categórica ao afirmar que a vida melhorou muito depois da chegada da UPP, mas, reforça que, a comunidade mais antiga do Rio ainda enfrenta problemas com o lixo e o fornecimento de água e luz.

- Todos os dias meu marido sai para trabalhar e tem que levar o lixo para jogar no contêiner que fica lá embaixo. O problema é que nem todos fazem o mesmo.

Carla conta que a localidade onde mora, o beco da Harmonia, estava há três dias sem água e que é muito comum faltar luz, principalmente quando chega o verão.

As ligações clandestinas de água e luz, os chamados "gatos", além de causarem um enorme prejuízo às concessionárias e aos demais consumidores (que, indiretamente, pagam a conta), tornam difícil garantir um fornecimento regular, como explica o presidente da Light (empresa distribuidora de energia), Jerson Kelman.

- Era um "jogo" onde todos perdiam. Os moradores não tinham um serviço de qualidade e a Light era prejudicada pelas ligações clandestinas.

A concessionária informou que já regularizou as ligações em 3.800 casas nos morros Dona Marta e Chapéu Mangueira, na zona sul, e na Cidade de Deus, na zona oeste. A meta é regularizar o abastecimento de energia em 31 mil residências.

Realidades diferentes entre as comunidades

As desigualdades entre as regiões da cidade e na geografia das favelas também se refletem nos indicadores sociais e econômicos e na distribuição dos serviços nas comunidades, revelou um levantamento da Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro) em nove favelas com UPPs.

As comunidades que ficam na zona sul apresentaram os melhores índices de renda e de estudo em comparação com as demais. Por outro lado, a coleta de lixo e a chegada de correspondências ainda são deficientes nessas favelas, mais íngremes que as demais.

Enquanto no Pavão-Pavãozinho, em Copacabana, na zona sul, a renda média dos moradores é de R$ 691, no Batan, na zona oeste, esse valor cai para R$ 406. Um terço da população é considerada pobre e 12%, indigente. Se por um lado o Pavão-Pavãozinho lidera a renda per capita, por outro lado, a comunidade é uma das mais problemáticas no que se refere à coleta de lixo e sofre com o despejo de detritos nas encostas.

A Comlurb (Companhia de Limpeza Urbana), por sua vez, admite que as maiores dificuldades são a coleta onde o acesso é mais complicado e a falta de colaboração da população.

A empresa informou que conseguiu atender 100% das residências do morro Dona Marta, a primeira comunidade a receber uma UPP, há dois anos, com a instalação de contêineres, papeleiras e jardineiras para os moradores despejarem o lixo, e que pretende levar o mesmo projeto para as demais comunidades pacificadas.

A pacificação das favelas, por outro lado, abriu as portas para um mercado até então inexistente para a iniciativa privada. O Bradesco, por exemplo, anunciou que pretende abrir dez agências bancárias no Complexo do Alemão, Vila Cruzeiro, Cidade de Deus, Gardênia Azul, Rio das Pedras, Dona Marta, Salgueiro, Terreirão, Tijuquinha e Turano.

A operadora de TV por assinatura SKY criou um plano especial para atender moradores da Cidade de Deus em parceira com o governo do Estado. O plano custa R$ 44,90 por mês e oferece 89 canais.

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