quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Direita e Esquerda – Um debate sempre inacabado

 

O debate direita/esquerda norteia a política. Estes campos são pólos antagônicos irreconciliáveis e mutuamente exaustivos, ou seja, somente há, em um sentido forte direita ou esquerda. Contudo, o amplo espectro partidário brasileiro, que possui 27 partidos, faz com que nem sempre seja fácil distinguir entre estes pólos. Tais constatações fazem surgir o questionamento acerca da validade da distinção esquerda/direita e de sua utilidade.

Associa-se, usualmente esquerda e direita a campos ideológicos mas isto é um equívoco. Esquerda e direita representam modos de ver o mundo e interesses e programas contrapostos. Não obstante a pluralidade de partidos e as alianças que eles fazem vimos no Brasil o emergir de uma esquerda e de uma direita, representada por PT e PSDB.

De fato, a politica é regida pela lógica amigo-inimigo de tal sorte que os aliados de um estão à esquerda e de outro estão a direita. O fato de partidos como PR não terem nada em comum com a esquerda não quebra o laço de vizinhança, pelo menos pragmática, com a esquerda. Ocorre que em sociedades complexas e plurais como a nossa existem ideias que se superpõem de modo que passam a existir, num sentido fraco, gradações entre esquerda e direita. Estas não podem jamais ser confundidas com uma ou com outra exatamente por seu caráter eclético.

Do ponto de vista da estruturação do campo político não há o terceiro incluído, aquele que não é nem de esquerda e nem de direita. A prova disto é o fenômeno Lula que nesta eleição conseguiu definir o campo em seu torno. Tal fato revela que a díade é valida e clara por meio de uma lógica amigo-inimigo.

Assim, sabemos que as duas maiores forças do ponto de vista ideológico deverão representar a compleição do mundo por meio da filosofia política. Questiona-se então quais são os critérios para esta distinção e sua utilidade. Proponho como critério o valor igualdade.

Que todas as teorias políticas são de algum modo igualitárias não se pode negar, contudo, o que as difere é o critério que prevalece como motivo de distinção entre os desiguais. Entendo, portanto, que a esquerda tende a entender as desigualdades como produzidas pela sociedade enquanto a direita tende a entender as desigualdades como inerentes a realidade. Neste sentido, um governo de esquerda será mais sensível a desigualdade e buscará eliminá-la. O que não significa que será necessariamente um governo de igualdade extrema. Por seu turno um governo de direita valorizará a diversidade.

Esta distinção é a pedra de toque que explica a utilidade prática da distinção e a desnecessidade de seu conhecimento teórico. Ora, o povo com o incremento de sua consciência cunhou uma nova agenda para o Brasil, com distribuição de renda e redução das desigualdades sociais por meio do PT e seu arco de alianças.

Esta nova agenda significa um desenvolvimento soberano de uma agenda de desenvolvimento nacional que rompe com o elemento tradicional de “crescer para dividir o bolo”. Do mesmo modo inicia-se um processo de diálogo com setores da sociedade que antes precisaram pôr o “pé na porta” para serem ouvidos.

Em suma, há em curso no Brasil, ao contrário do que alguns pensam, uma agenda de esquerda, ou seja, igualitária e que visa garantir a liberdade não só potencial mas também substancial igual para todos pois isto é o que significa em última instância viver em um país de classe média. Num momento em que o PSDB visa apresentar-se como centro-esquerda e a mídia faz questão de esquecer a história do partido que encabeça a aliança no atual governo é importante que não nos deixemos trair pelo discurso fácil da crise das ideologias e do fisiologismo total e absoluto. Por estas razões, gostaria de terminar afirmando que, politicamente, este ano o povo reafirmou sua opção pelo campo das mudanças e, na lógica amigo-inimigo, derrotou o campo da direita.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...