quinta-feira, 5 de maio de 2011

Psol e PCdoB: Diferentes modos de arrazoamento

Que siginifica ter razão? A esta pergunta correspondem duas respostas possíveis.1. Ter razão significa interpretar algo de modo logicamente válido ou 2. Ter razão significa ter um acesso privilegiado à verdade e à substância do mundo. Em seguida pergunta-se o que significa arrazoar? Arrazoar significa o modo pelo qual se busca ter razão, contudo, se se busca algo que não se sabe como saber que encontrou?

Estas considerações iniciais sobre a razão lastreiam de modo impalpável imediatamente o modo como entendemos o mundo. De qualquer modo elas desconsideram algo que considero fundamental: a razão é somente um modo de lidar dentro de um campo onde cada coisa pode significar alguma coisa. Explico, o modo como se define o que se responde nos leva a duas conseqüencias práticas de ordem importante.

Se adotamos a primeira perspectiva o acesso ao mundo é vedado e a linguagem é algo que só se pode falar com aqueles que compartilham de uma mesma interpretação, ou seja, partilham de um campo de significado específico. O caráter subjetivista, fica claro, o homem é que posiciona o mundo onde ele quer e como ele quer, como se a existência lhe fosse uma propriedade.

Se adotarmos por sua vez um modelo de acesso privilegiado a linguagem permite o acesso àquilo que é a verdade das coisas e, igualmente, se considera que é possível acessar a verdade em seu sentido puro. Por outras palavras, adquire a razão um caráter messiânico que implica em haver aqueles que são aptos a revelarem ela.

E o que isto tem a ver com o psol? E com a política em gênero? Ora, este é o modo como se dá o acesso ao conhecimento do mundo e, por isto, dele também não escapam os companheiros que parecem transitar de uma esfera particular para uma universalista como se assim pudessem esconder seu cárater eleitoreiro e sua carência de representação na sociedade civil. Em suma o que se tenta, do ponto de vista teórico, é de uma desonestidade absoluta.

Apresentam-se como paladinos da moral, ou seja, como aqueles que detém a verdade em si sobre os fatos políticos zombando com ar escarninho do esforço que partidos de esquerda, seus companheiros em armas, fazem para avançar a disputa sobre o modo de se autocompreender de toda sociedade.

Já disse aqui que não somos nós, por nossa vontade nucleada, que definimos qual a constelação relacional que vai imperar, mas urge realizar um esforço contínuo no ato de esperar que nossa faculdade de sempre atualizar a realidade possa realizar um influxo em direção ao campo correlacionado de significados em que nos movemos, ou seja, o socialismo. Este é o esforço do PCdoB quando filia pessoas de referência. Não adianta entrarmos em discussões estéreis sobre seu caráter pessoal mas cumpre que nós, comunistas, apresentemos para tais pessoas alternativas.

Na mesma medida tais pessoas influenciarão outras, que são as referenciadas, e com isto haverá uma formação concreta de base. Inclusive, salvo melhor juízo, o psol também faz isto ou não filiou o Jean Willys? O Deputado Marcelo Freixo não faz um mandato, bom mandato, voltado para se tornar referência na sociedade.

Assim, é muito cinismo esta atitude de toda vez que filiamos uma pessoa referenciada, como foi com o Netinho e agora com o Neguinho da Beija-Flor, querer desqualificar nossos esforços. Como se fosse agora um híbrido de interpretacionismo com objetividade, ou seja, agindo como se por um lado fossem detentores da substância do mundo e de quem vale a pena filiar. De forma que ou bem condenam toda filiação de massa ou bem admitem a interpretação reconhecendo que não falamos a mesma linguagem que não há entre nós uma identidade de campo significativo, qual seja, a tradição socialista.

O PCdoB avança exatamente por que ganha visibilidade sem descurar da formação de seus quadros para que o que inicialmente foi uma identificação com o campo significativo de nossa trajetória possa se tornar num acontecimento-apropriação de nossas bases programáticas e teóricas. Isto significa que buscamos a todo momento garantir nossa identidade sem que para isto precisemos nos distanciar da sociedade civil e desistir, como frequentemente os puristas fazem, de ser uma força relevante socialmente.

Ainda uma palavra em defesa de nosso modo de arrazoar. Creio que este partido é o mais coerente por que entende, talvez instintivamente, a noção de campo de significados, ou seja, busca incessantemente compreender os significados dos problemas que a realidade apresenta para o nosso próprio campo correlacionado, digo, nosso projeto socialista. Em conclusão escapa do interpretacionismo por que entende que não somos nós, nucleadamente, que posicionamos os campos e da ilusão do acesso à verdade exatamente por que se volta para estes campos, garantindo que eles possam se mostrar enquanto tais. Com isto, nos diferenciamos dos outros partidos, por que temos um projeto autêntico correlacionado com a realidade e não uma síntese de preconceitos.

Por fim, são estas as razões que apresento à avaliação para demonstrar que compreendemos quem são nossos verdadeiros inimigos e estejamos mais próximos do povo a cada dia com a tarefa central de ser referência de opinião para ele. Não nos afastando dos significados estabelecidos de modo leviano, garantimos projetos adequados a este que, friso, não são fruto da nossa vontade mas das limitações e contradições apresentadas pelos campos de significado, ou seja, pelo modo como as pessoas entendem a realidade universalmente, refletem sobre si mesmas e sobre sua relação com o mundo que pretendemos transformar.

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