segunda-feira, 2 de maio de 2011

A morte de Osama, apenas mais um ritual

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Alguns sentirão saudades outros veêm no assassinato de Osama um ato simbólico sobre o modo de de agir estadunidense no mundo. Gostaria, se for possível, de me manter além de ambas as definições e propôr que pensemos sobre o sentido da morte de um grande lítder, quer concordemos com seus atos ou não. O que tentarei fazer, brevemente, é retomar a partir de um entendimento sobre os significados do estado de coisas no mundo o escrito no texto “11/09 revisitado”

A morte de Osama representa, no meu entender uma disputa, uma disputa de caráter político. Desde que a religião não serve mais de esteio para a compreensão do estado de coisas nos mantém na incompletude acerca do sentido da realidade, somente a política pode ser o esteio de nossa vida. É justamente este o caráter central do simbolismo da morte de Osama, explico, trata-se de garantir a manutenção do modelo de arrazoamento por meio da técnica em oposição ao arrazoamento por das crenças. O que os EUA querem garantir, simbolicamente falando, é a manutenção do caráter não identitário da civilização mundial, ou melhor, de uma inexistência de tal civilização.

Mas devo me ater ao arrazoamento. Arrazoar é tornar ravzoável e o modelo instaurado pela modernidade é a transição entre uma doutrina de arrazoamento por crenças para uma doutrina de arrazoamento por técnica. Ora, pelas crenças tudo é razoável, basta crer, ou seja, garantir o poder tradicional. Mas não é disto que se trata a violência sacrificial impetrada pelos terroristas não é disto que se trata, igualmente, o cordeiro imolado.

Trata-se de um lado em garantir sua identidade, ou seja, sua participação no estado de coisas do mundo moderno, ou seja, garantir que não há um só modo de se apropriar da realidade. Isto demonstra-se pelo aparato técnico (bélico) que “eles”, os orientais, os terroristas trazem em seus atos. De outro lado, para os EUA, trata-se de dizer que falta a este uso técnico o caráter adequado, ou seja,  sua “legitimidade democrática” secular. 

O paradoxal é que é exatamente com o mesmo ato sacrificial que se provam ambas as teses. É com a mesma negação de direitos e com o mesmo arrazoamento, que os EUA dizem ser baseado em crenças, que se justificam também seus atos. Pouco importa qual o caráter da crença, se secular ou teológica, é o mesmo ato ritualístico de imolar o cordeiro que garante a “legitimidade” de suas ações. Mas, como vimos, estes atos sacrificiais ritualísticos já são a expressão de nosso modo de ser, o modo da técnica, que reflete-se na exploração indefinida da natureza e dos homens.

Assim, para finalizar, o que a ação estadunidense mostra é seu conservadorismo e a confirmação da tese que querem combater, qual seja, há somente uma civilização mundial. Não há vitoriosos nestes atos sacrificiais mas somente horror e reafirmação do sagrado, mesmo que seja a sagração da lécnica “democrática”, que como já disse, não serve de esteio para um mundo plural que pretendemos construir. Então fica a pergunta, por quanto tempo deveremos construir a civilização mundial por meio de lágrimas e sangue?

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