O projeto de filosofia fundado por Marx inicia-se, em sentido forte, do que se pode chamar de filosofia da práxis. Contudo, retraído encontram-se conclusões sobre o conhecimento que fundam e orientam tal projeto. É o que, à título de exemplo, se demonstra pela constante referência à crítica.
Em “A crítica como método” buscamos cumprir a tarefa de suspender o juízo realocando o significado da crítica, ou seja, retirando-o do chamado “senso comum” o seio da tradição filosófica. Penso que seja esta a referência de Marx.
Assim, ao afirmar que “a crítica da religião foi completada” Marx faz duasconstatações, a saber uma é a de que a religião não é mais o esteio da auto compreensão dos homens e disto deriva um vazio, ou seja, a ausência de esteio, que faz desaparecer o sentido do existir para o homem. Sua tarefa, portanto, é dupla deve manter-se na crítica revelando a produção de sentido imanente a existência, bem como ao desvelar este sentido lançar as bases para a extinção do vazio por meio da emancipação do homem.
É de se notar, em digressão,que não adoto a visão de rompimento entre o velho e o novo Marx, ou seja, não há ao meu sentir mudança de influxo, o trabalho da vida de Marx move-se nas mesmas categorias ontológicas e sempre no interesse de investigar a produção (da vida).
Ora, ambas as tarefas estão conectadas exatamente pelo conceito de produção (da vida). Deve-se, contudo, sem se afastar do materialismo combater seu sectarismo. Para tanto é necessário oferecer uma determinação abrangente o suficiente para o conceito de produção. É com este fito que mantenho sempre a relação da produção com a vida. Ora, quando se fala em vida fala-se tanto da produção material em sentido estrito, concreto, quanto da produção material em sentido lato, ideal, ou seja das cadeias de significado para os estados de coisas, por outras palavras, da consciência.
Desde que não está preso à religião o retraimento da produção de sentido somente ocorre se “o homem ainda não se achou ou voltou a perder-se”. Em todo caso, vemos com Marx que sobre o influxo das cadeias de produção da vida, na impossibilidade de nada ser, os homens encontram sempre já produzindo sua vida material quer saibam ou não.
Encontra-se, ainda, já sempre dentro destas cadeias de produção da vida sobre as quais seu influxo é, por certo limitado pelos significados já estabelecidos. Tais produções, como já vimos, em “Saber é compreendermos as coisas que mais nos convém” impõem uma condição de esquecimento da possibilidade de forjar novas formas de conceber as configurações do real.
A produção, enquanto ato consciente, é um desvelar de algo assim como a verdade, ou seja, a substituição do esquecimento pela memória, que é condição para o esquecimento, por outras palavras, que já sempre esteve a caminho e desviou-se. Em última instância trata-se de um reconhecimento de nossa condição de homens.
Reconhecer, no entanto, não é emancipar-se este é fruto da produção que resignifica o estado de coisas, ou seja, da própria produção de novos significados, que tem como consequência a alteração concreta da vida material. Não se confunda tal afirmação com idealismo, o centro da firmação esta em produção (da vida), ou seja, de todas as suas instâncias de campos de significado, concretas e ideais. Esclareça-se, ainda, que campos de significados são a “realidade”, ou seja, ser “real” é perceber algo como algo num tempo e num espaço definido.
Ocorre que a alteração nos campos de significados não é possível por mero ato da vontade subjetiva, o que leva Marx a uma aporia, qual seja, o que podemos fazer? Esperar! Mas quê, esperar? Sim, mas alertas pr4oduzindo sentido e deslocando tanto quanto for possível os campos de significados, ou seja, cumpre a nós travar o bom combate esperando o momento certo para destruir por completo estes significados e produzir novos.
Acreditemos camaradaas que nossa memória que um dia desviou-se há de voltar com nossa ajuda e neste dia não apenas nos reconheceremos como homens bem como seremos homens!
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